quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Embrapii, o público e o privado juntos

No cenário nacional é inédita a centralidade assumida pelo tema inovação enquanto instrumento fundamental para o desenvolvimento econômico e social sustentável, a geração de emprego e renda e a democratização de oportunidades.


Uma crescente cultura de inovação começa a fazer parte do mundo cotidiano dos empresários, dos governos e da comunidade científica e tecnológica nacional. Novos tempos exigem instrumentos compatíveis com a realidade emergente e uma das proposições é a formulação, enquanto iniciativa público-privada, da Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial-Embrapii.


A exemplo da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária-Embrapa, a nova empresa terá como característica o balizamento de seus programas pelo atendimento às demandas dos setores associados, desde as empresas inovadoras tradicionais às pequenas empresas nascentes baseadas em forte conteúdo tecnológico.


A Embrapii, diferentemente da Embrapa, não será se constituirá a partir da construção de seus laboratórios próprios, mas fará uso intensivo das redes de institutos e centros de pesquisa já existentes, com capilaridade comprovada e competências certificadas em interações com empresas inovadoras.


A definição adequada do modelo final da Embrapii que contemple as características desejáveis acima está longe de ser simples, demandando um projeto piloto onde possamos testar conceitos e experimentar soluções. No projeto piloto em curso, a Confederação Nacional da Indústria-CNI deverá ser um dos atores principais e juntamente com a Financiadora de Estudos e Projetos-Finep explorarão a capacidade de selecionar e articular os principais institutos tecnológicos. O Instituto de Pesquisa Tecnológica-IPT, o Centro Integrado de Manufatura e Tecnologia do SENAI na Bahia- CIMATEC e o Instituto Nacional de Tecnologia-INT, cada qual em suas áreas específicas de especialização, foram inicialmente selecionados para testar o modelo proposto.


Na seleção dos institutos associados é imperativo que eles assumam as funções de conectores entre os centros tecnológicos e as empresas demandantes, atuando nas fases intermediárias do processo de inovação em parcerias com as empresas e que viabilizem os investimentos nas etapas meio da inovação, exatamente naqueles espaços em que estão as provas de conceito, as etapas piloto e os escalonamentos, os quais se constituem em importantes gargalos do sistema de inovação brasileiro e também o elo da cadeia de inovação que apresenta maior risco.


A Embrapii pretende contribuir para suprir uma lacuna na articulação institucional entre os setores público e privado, especialmente no setor industrial, tendo como perspectiva central a promoção da inovação nas empresas, explorando a capilaridade descentralizadora e a competência estabelecida dos institutos tecnológicos existentes. A Embrapii bem sucedida contribuirá com consolidar o desenvolvimento de mecanismos ágeis e flexíveis, compatíveis com o atendimento de demandas empresariais crescentes na área de inovação.

EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA: AVANÇOS E DIFICULDADES


A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira, LDB, promulgada em 1996, promoveu o avanço possível ao estimular a utilização da modalidade a distância em vários níveis educacionais. No início do Governo Fernando Henrique Cardoso, a criação da Secretaria de Educação a Distância, SEED, no Ministério da Educação, representou uma iniciativa positiva para a institucionalização da modalidade. Porém, por certo os formuladores da LDB ou da SEED eram, compreensivelmente, incapazes de dimensionar o que viria adiante em termos da rede mundial de computadores e das novas tecnologias aplicadas à educação.


O Governo Lula em 2005 contribuiu ao formular a Universidade Aberta do Brasil, UAB, tendo como força propulsora inicial estimular a formação inicial e continuada de professores, viabilizando a melhoria da qualidade da educação básica. A reestruturação da CAPES em 2007, incorporando à agência a missão de pensar e agir na educação básica brasileira deve ter deixado satisfeito Anísio Teixeira, seu fundador.


Apesar dos inegáveis avanços, dificuldades naturais posteriores talvez nos impeçam de colhermos os frutos devidos. A divisão abrupta entre as modalidades presencial e a distância, tal como prevista na LDB, inibe legítimas tentativas de modalidades híbridas e flexíveis. A título de exemplo simples, a possibilidade de termos na modalidade presencial até 20% na modalidade a distância deveria permitir que onde a experiência comprovadamente tivesse tido êxito avançar até 40%. Outro exemplo, um estudante de universidade de ponta mundial é considerado presente se o IP de seu laptop acessa a aula. Enfim, exploramos pouco enorme área sombreada onde os nomes das modalidades não se aplicam rigorosamente.


A SEED, por sua vez, foi extinta para dar lugar à Secretaria de Regulamentação. Temos o risco de hipertrofiar ainda mais a burocracia de estado. Creio que talvez tivesse sido melhor termos suprimido um excesso de órgãos, siglas e instâncias reguladoras substituindo-os por uma agência autônoma de regulação, típica de estados modernos. A nova agência teria a participação de todos os atores envolvidos ainda que regulados pela sociedade civil independente e esclarecida, sendo os processos baseados em confiabilidade recíproca e assentados em exames de resultados efetivos e não em promessas e intenções.


A CAPES que brilhantemente avalia, fomenta e pensa a pós-graduação brasileira, por certo poderia agir melhor sobre a educação básica se livre da burocracia de gestão da UAB. Por sua vez, a UAB que nasceu como Programa tinha por destino se configurar um dia enquanto Universidade independente, ágil e desburocratizada, contando com quadros próprios e docentes compartilhados em ações conjunta com as demais universidades, nos moldes mais eficientes, ousados e contemporâneos de instituições similares.


O Governo Lula que se orgulha de ter criado tantas universidades, deixou de ter institucionalizado a maior que de fato fez, eternizando-a numa adolescência prolongada, imersa dentro de uma Diretoria da CAPES. A UAB que tem tinha tudo para se constituir enquanto Universidade próspera e independente corre o risco de se tornar um corpo pesado e não plenamente reconhecido pela cabeça, ainda que o corpo, mesmo assim, iniba a cabeça de pensar plenamente.

Ciência para a Inovação

Em artigo recente (“Ciência para o Brasil”) neste espaço, o Prof. Alaor Chaves apresentou interessantes considerações sobre a ciência brasileira e enfatizou a participação ou não em cooperações internacionais. Cabe destacar que os indicadores disponíveis apontam que, como reconhecido pelo autor, o volume da ciência brasileira tem crescido significativamente. Da mesma forma, tem crescido a qualidade, ainda que este último predicado não seja igualmente aceito pelo autor (não tem tido o mesmo vigor, em suas palavras).


Sobre financiarmos generosamente a ciência européia, onde é destacada em especial a possível participação na ESO (European Southern Observatory), seria bom destacar que se trata de algo em discussão no Congresso Nacional e sem definição ainda. Por outro lado, sem ser necessariamente competitivo na linha um contra o outro, é correto afirmar que a expansão do Laboratório de Luz Síncroton deve ter a mais alta prioridade, dado ser projeto nacional que alavancará importantes tecnologias, como bem destacado pelo autor.


A questão essencial, no entanto, não está no suposto conflito entre o apoio dentro ou fora do País, mas sim, creio eu, em destacar que temos sido uma nação que demonstrou boa capacidade de produzir conhecimento de ponta, ainda que tenha permanecido frágil na incorporação deste ao setor produtivo. O Brasil está mudando, mas há ainda um longo caminho a percorrer até que inovação tenha o mesmo sucesso que a ciência tem tido.


No cenário mundial contemporâneo inovação é instrumento fundamental para o crescimento econômico e social, a geração de emprego e renda e a democratização de oportunidades. Assim, o conhecimento científico-tecnológico, bem como a inovação por ele engendrada, são patrimônios sociais que permitem gerar desenvolvimento sustentável, ampliando a produtividade e a competitividade das empresas e contribuindo para a melhoria da qualidade de vida da população.


O conceito de inovação é correlacionado com pesquisa e desenvolvimento, porém, distinto e associado necessariamente à geração de riquezas e ao atendimento de demandas sociais. Inovação implica novas tecnologias, produtos e processos originais. Adicionalmente, inovação contempla também mudanças incrementais e novas funcionalidades de produtos já existentes, inovação social, melhorias na gestão e modelos inéditos de negócios acoplados à conquista ou criação de mercados.


Inovação em nossas empresas ainda é tímida e tal situação decorre da historicamente frágil cultura de inovação no ambiente empresarial, da tradicionalmente insuficiente articulação entre a política industrial e de comércio com a política de ciência e tecnologia e da falta de qualidade na formação de recursos humanos aptos ao mundo da inovação.


A ciência e a formação de recursos humanos altamente qualificados têm avançado significativamente no Brasil e o Ministério da Ciência e Tecnologia-MCT tem contribuído significativamente. Um futuro Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação–MCTI terá que incorporar às suas missões tradicionais, e em mesmo pé de igualdade, o incremento da cultura de inovação nas empresas e na sociedade em geral, o aumento da articulação entre as demandas sociais e as orientações da comunidade científica e tecnológica, bem como contribuir para que profissionais sejam preparados com visão de inovação enquanto centralidade dos processos.

MCTI: o I que faltava ao MCT

No cenário mundial contemporâneo inovação é instrumento fundamental para o crescimento econômico e social, a geração de emprego e renda e a democratização de oportunidades. Inovação também está presente como fator determinante associado à formação de recursos humanos preparados para atender as complexas demandas da sociedade. Assim, o conhecimento científico-tecnológico, bem como a inovação por ele engendrada, são patrimônios sociais que permitem gerar desenvolvimento sustentável, ampliando a produtividade e a competitividade das empresas e do país e contribuindo para a melhoria da qualidade de vida da população.


Indicadores de crescimento demonstram que atualmente inovação contribui diretamente com mais da metade do Produto Interno Bruto (PIB) das nações, segundo dados da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico-OCDE. No Brasil, a Política de Desenvolvimento Produtivo (PDP) e o Plano de Ação em Ciência, Tecnologia e Inovação (PACTI) têm considerado, cada vez mais, inovação como um dos fatores centrais para o fortalecimento do país no cenário internacional.


O conceito de inovação é correlacionado com pesquisa e desenvolvimento, porém, distinto e associado necessariamente à geração de riquezas e ao atendimento de demandas sociais. Inovação implica novas tecnologias, produtos e processos originais. Adicionalmente, inovação contempla também mudanças incrementais e novas funcionalidades de produtos já existentes, inovação social, melhorias na gestão e modelos inéditos de negócios acoplados à conquista ou criação de mercados. Dessa forma, embora as conexões entre ciência e tecnologia com inovação tenham uma face mais evidente no que diz respeito ao universo das indústrias de manufatura, de fato, hoje quase três quartos da riqueza produzida no planeta é criada não pela produção de coisas físicas, produtos, mas sim pela prestação de serviços.


A ciência e a formação de recursos humanos altamente qualificados têm avançado significativamente no Brasil e o Ministério da Ciência e Tecnologia-MCT tem contribuído significativamente. No entanto, a inovação em nossas empresas ainda é tímida e tal situação decorre da frágil cultura de inovação no ambiente empresarial, da historicamente insuficiente articulação entre as políticas industrial e de comércio com as políticas de ciência e tecnologia e da falta de qualidade na formação de recursos humanos aptos ao mundo da inovação.


Um futuro Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação–MCTI terá que incorporar às suas missões tradicionais, e em mesmo pé de igualdade, o incremento da cultura de inovação nas empresas e na sociedade em geral, o aumento da articulação entre as demandas sociais e as orientações da comunidade científica e tecnológica, bem como contribuir para que profissionais sejam preparados com visão de inovação enquanto centralidade dos processos.

sábado, 29 de outubro de 2011




INOVAÇÃO E A COBRA QUE MORDEU O RABO




Inovação no sentido que se aplica atualmente refere-se ao desenvolvimento de um novo produto ou processo, bem como à funcionalidade inédita de um produto já existente, que atende a uma demanda específica do público consumidor ou que gera nichos previamente inexistentes de mercado. Inovação está profundamente conectada à aplicação de novos conhecimentos associados ao desenvolvimento de ciência e tecnologia e se constitui, cada vez mais, no principal elemento propulsor da economia mundial e diferenciador competitivo essencial entre regiões e países.


Tradicionalmente, assume-se que as ciências pura e aplicada podem engendrar tecnologias, as quais, a depender da capacidade de absorção do mercado e da escala do público consumidor, podem se caracterizar como inovação. Esta cadeia linear por muito tempo distanciou a livre e descompromissada produção do conhecimento da extremidade oposta vinculadas às demandas do mercado consumidor.


A realidade recente impõe que a forma de produzir conhecimentos e de transmiti-los tem se alterado radical e profundamente. Ciência historicamente se assenta na liberdade individual de cátedra e em linhas de pesquisa que caracterizavam o pesquisador clássico, cuja função primeira, isoladamente ou em conjunto com seus estudantes e raros parceiros, tem sido alargar as fronteiras indo além do estado da arte. Em geral, a principal motivação dos temas são os desafios inerentes à subárea, sendo as eventuais aplicações futuras definidas em outros contextos e em tempos de escalas diversas, a depender da linha de pesquisa específica.


O Brasil demonstrou nas últimas décadas uma capacidade extraordinária em produzir conhecimentos dentro da estratégia acima, tendo consolidado uma pós-graduação de qualidade e uma produção científica crescente em níveis bem acima da média mundial em quase todas as áreas. Demonstramos capacidade em produzir conhecimento, por outro lado, atestamos até aqui uma notável fragilidade em transferir conhecimento ao setor produtivo, tendo como exceções destacáveis a área dos agronegócios e raros setores industriais bem identificados.


Para agravar o quadro, os balizadores com que se produz ciência têm se alterado de tal forma que uma nova dinâmica impõe que as demandas da sociedade passam a ser elementos definidores, ainda que não únicos, dos principais programas de pesquisa. Ou seja, aquilo que até recentemente tinha peso complementar, passa a ter preponderância inédita. Da pesquisa quase individual passamos rapidamente às imprescindíveis redes de pesquisa, das linhas de pesquisa quase isoladas estamos migrando para programas de natureza multidisciplinar motivados por demandas em geral complexas, portanto, intratáveis à luz de linhas de pesquisa ou indivíduos isolados, exigindo múltiplos olhares e abordagens de equipes integradas oriundas de diversas áreas.


Em outras palavras, os movimentos acima podem ser descritos via substituição gradativa da cadeia linear, que impunha uma distância entre a ciência e a inovação colocadas em extremidades opostas, por um círculo completo contemplando ciência, tecnologia e inovação, onde as demandas da inovação influenciam e de certa forma definem, a depender da área específica do conhecimento, os rumos da ciência. É a cabeça da cobra que mordeu o rabo.


Desta reestruturação resultam novos estímulos a que o pesquisador, adicionalmente à sua atuação clássica em universidades e centros de pesquisa, explore espaços quase virgens no caso brasileiro em institutos tecnológicos ou setores de pesquisa e desenvolvimento de empresas. Espaços que por sua vez influenciam, por meio da interação com as demandas, os programas de pesquisa e os temas selecionados para as orientações de seus estudantes.


Além de repensarmos profundamente os caminhos pelos quais produzimos ciência, as formas pelas quais transmitimos conhecimento demandam um repensar profundo a partir da questão de como formar profissionais aptos e preparados para um cenário onde inovação passará a exercer uma centralidade inédita. Nossas metodologias usuais são caracterizadas pela prática de professores que ministram conhecimentos pressupondo aprendizes que nada sabem da matéria específica até então, são pedagogias baseadas no estudar somente após a aula e na prática de conferir posteriormente se o aluno aprendeu ou não.


Tais práticas são essencialmente conflitantes com o mundo da educação permanente e são incongruentes com a revolução educacional em curso caracterizada por uma realidade onde conhecimentos são cada vez mais acessíveis, instantaneamente disponibilizados e gratuitamente distribuídos. Neste novo cenário, estimular os processos auto-instrutivos em seus limites superiores, explorar a capacidade dos estudantes em estudar antes das aulas, as quais passam a ter uma dinâmica de outra qualidade e natureza, são ingredientes indispensáveis aos processos formativos de cidadãos compatíveis com o mundo da inovação.



(A figura é Ourobos, símbolo representado pela serpente mordendo o próprio rabo, respresentando também a eternidade).

sábado, 16 de abril de 2011

Brasil e China: muito além da complementaridade









Há uma visão simples que decorre do cenário mundial atual tentando fazer crer que uma racional distribuição internacional de missões imporia a China como a grande indústria do mundo e o Brasil como o celeiro natural, produtor de alimentos e provedor de minérios. Trata-se da complementaridade fotográfica, imediatista e, em perspectiva, perversa.


Um resumo da recente visita da Presidenta Dilma Rousseff à China expressa o contraponto do pressuposto acima, demandando uma visão dinâmica que vai leva em conta a complexidade dos dois países e supera o simplismo da complementaridade estática.


Certamente a indústria chinesa crescerá e a China estará presente em todos os setores da economia mundial, cada vez mais. Da mesma forma, em que pese o destino brasileiro de grande, se possível o maior, produtor mundial de alimentos, o país não abdicará de ser também um importante centro industrial e de serviços, tendo na inovação de seus produtos e de seus processos elemento diferencial para a competição por espaços no comércio internacional.


É isso que sempre esteve em jogo: uma visão reducionista da complementaridade estática versus a legítima pretensão brasileira de parceria dinâmica que vai além da complementaridade e leva em conta a complexidade de dois gigantes do presente do futuro.


A título de exemplo, constitui fato marcante e divisor de águas uma empresa como a Foxconn, detentora de mais de 30.000 patentes, empregando mais de um milhão de trabalhadores e líder mundial de componentes para a indústria eletrônica, definir o Brasil como estratégia central para o crescimento de seus negócios. O Brasil se consolidará como a primeira nação ocidental detentora do ciclo completo da tecnologia de transistores de filmes finos para produção de displays para toda a cadeia que vai de celulares a telas grandes de TV, passando por painéis de automóveis, tablets e notebooks.


Nada é simples e nem imediato. São operações delicadas e demandantes de ações e disponibilidades nem sempre existentes a priori. Por exemplo, ficando somente no caso ilustrativo acima, seriam necessários de imediato mil engenheiros e técnicos brasileiros para iniciarem suas capacitações em instalações em fábricas em Taiwan e China. Sabemos não ser simples, mas assumi-lo como impossível antes mesmo de tentar é abrir mão de nosso futuro num campo absolutamente estratégico. Como já afirmado anteriormente por outros: “Foi quase por ingenuidade, que não sabendo ser impossível, acabou-se cumprindo a missão; se soubessem que não era possível, não o teriam feito, mesmo porque sequer teriam tentado”.


Ao longo do próximo período, Brasil e China, com relação ao tema inovação, estão definindo que avançaremos e muito na colaboração entre os dois países. Do lado brasileiro, o Ministério de Ciência e Tecnologia, em parceria com demais ministérios, estados e municípios, associados às empresas do setor e aos institutos de pesquisa e universidades interessados, estabelecerão um plano de trabalho conjunto com o Ministério de Ciência e Tecnologia da China, a Academia Chinesa de Ciências, empresas e universidades daquele país, a exemplo de Tsinghua e Beijing.


Uma das primeiras iniciativas na área de inovação será a instalação em breve de um Laboratório China-Brasil em Nanotecnologia, com ênfase em nanomateriais, nanobiotecnologia e nanodispositivos. São planos pretensiosos para o futuro, ma com os pés bem fincados em ações em curso no presente.


Cruzar a fronteira da ilusão reducionista do imediatismo e abrir espaços para preparar os tempos que virão, contemplando a real potencialidade das nações, é um dos mais precisos desafios que a realidade atual desses dois países impõe que sejam discutidos e definidos.



(na foto, Prof. Mo-Lin Ge do Instituto de Matemática da Universidade Nakai de Tian-Jin e Prof. Adalberto Fazzio da USP. Eu tirando a foto)













domingo, 9 de janeiro de 2011

Universidades: de Humboldt ao Mundo da Inovação

As universidades são definidas como sendo instituições pluridisciplinares associadas ao domínio e cultivo do saber humano que visam â formação de quadros de nível superior. No Brasil, a Constituição Federal, no seu artigo 207, além de garantir autonomia, reafirma o conceito tradicional de indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão.

Embora milenar, tendo suas origens na Idade Média, a chamada universidade moderna tem como referência a Universidade de Berlim, criada em 1810 por Wilhelm Humboldt, fruto da efervescência libertária na Europa Iluminista pós-Revolução Francesa e influenciada por Goethe, Schiller e Kant. A novidade da universidade humboldtiana é a incorporação da atividade de pesquisa à prática pedagógica.

Uma alteração, incluindo como missão da universidade o desenvolvimento econômico regional, ocorre com a criação do Massachusetts Institute of Technology-MIT, nos Estados Unidos, em 1862. Posteriormente, essa nova dimensão influenciou outras instituições, inclusive européias e asiáticas. A universidade brasileira, por sua vez, passou quase imune por essa última influência, tendo permanecido sempre de alma pretensamente humboldtiana.

Se os 200 anos que nos separam da criação da Universidade de Berlim estão recheados de mudanças, as próximas décadas nos reservam mudanças muito mais drásticas e rápidas. Entre as várias novidades em curso, inovação chama a atenção pela centralidade que ocupa no presente e mais intensamente terá ainda no futuro.

Inovação compreende um produto ou processo novo, bem como a introdução de uma qualidade ou funcionalidade inédita. Assim, inovação implica em tecnologia e máquinas, mas vai além, contemplando também melhorias na gestão e novos modelos de negócios.

Como ficam as universidades neste novo contexto? Nas últimas décadas, em sua maioria, elas têm se caracterizado pelas funções educativas clássicas e secundariamente pelas pesquisas convencionais. As universidades do presente e do futuro tendem a se transformar expressivamente, agregando às suas missões tradicionais de ensino e pesquisa, servir também como centros indutores de inovação.

Esses novos ingredientes alteram os temas selecionados para geração de conhecimentos, a forma de produzi-los e afetam também as metodologias de ensino. Até recentemente, a figura típica do docente investigador tem sido de um competente profissional que na sua linha específica de pesquisa tem por meta explorar os limites do estado da arte, tendo como referência única de sucesso as publicações em conceituadas revistas internacionais. Muitas vezes trabalhando isoladamente, às vezes com um estudante de pós-graduação e muito raramente em equipe.

A partir desta década, pela natureza complexa dos problemas a serem abordados, são inviáveis, em geral, as abordagens do ponto de vista de uma linha exclusiva de pesquisa, demandando, na maioria dos casos, a formação de equipes multidisciplinares e o trabalho em equipe por meio de redes de pesquisadores. Na universidade pós-humboldtiana, a demanda social passa a ser, gradativamente, o elemento central que define prioritariamente as áreas de pesquisa em curso, respeitadas as exceções, e modula tanto a forma de pesquisar como de transmitir conhecimentos.

A produção científica nacional tem crescendo a um ritmo muito superior à média mundial e está assentada, principalmente, em duas importantes variáveis, em ordem de importância: 1.a muito bem estruturada e avaliada pós-graduação (CAPES), e 2.o sistema de bolsas de produtividade do CNPq. Ambas variáveis têm como elemento de referência principal (não único) a publicação de artigos em revistas especializadas.

No entanto, o sucesso na produção de conhecimento no Brasil não esconde a baixa capacidade de transformar esse conhecimento em riqueza que impacte no desenvolvimento econômico e social. A título de marcar a discrepância, enquanto o Brasil responde por 2,7% da produção científica mundial, em termos de registros internacionais de patentes somos responsáveis por menos de 0,1%. Mesmo não sendo registros de patentes o único, e não necessariamente o melhor, indicador, os números são tão díspares que certamente evidenciam algo.

A nova realidade em curso alterará a prática da pesquisa acadêmica, seja na motivação dos temas escolhidos, seja na forma de produzir os conteúdos e, não menos importante, nos processos avaliativos acoplados. Assim, os comitês de áreas de instituições como CAPES e CNPq ao longo dos próximos anos serão demandados a repensar pontuações de trabalhos em áreas que não sejam necessariamente disciplinares ou que aparentemente as conexões não sejam exclusivas com a área de denominação disciplinar que caracteriza o comitê especifico. Além disso, aprender a dimensionar e contabilizar os eventuais impactos dos resultados das pesquisas no setor produtivo, além dos tradicionais e diretos parâmetros de impacto das revistas de divulgação, não será tarefa fácil, mas imprescindível.

A palavra extensão redimensiona-se, abandonando qualquer pretensão da velha extensão enquanto falsa concepção de “levar” o conhecimento produzido para a sociedade. A sociedade, por meio de suas demandas, ajuda a moldar e definir com mais intensidade o conhecimento a ser desenvolvido, numa via de mão dupla na qual estamos pouco acostumados. Mesmo a visão empreendedora tradicional se recicla, dando espaço ao empreendedorismo coletivo que marcará as próximas etapas de desenvolvimento. Neste contexto, destaque-se o papel relevante das incubadoras de empresas e dos parques tecnológicos como elementos diretamente associados tanto à produção de conhecimentos como acoplados aos percursos acadêmicos dos cursos de graduação e dos programas de pós-graduação.

Em suma, na universidade pós-humboldtiana, a forma com que o conhecimento é desenvolvido, difundido e aplicado interfere não só na riqueza cultural da sociedade, mas também na economia e na competitividade global. Tudo isso com uma ênfase muito mais acentuada do que costumava ser anteriormente. Demanda social passa a ser, gradativamente, o elemento central que define prioritariamente as áreas das pesquisas em curso e modula a forma de pesquisar bem como de transmitir conhecimento.