segunda-feira, 30 de março de 2009










Príncipe Charles, Educação em UK e Casa Valduga


O Reino Unido (conhecido como UK, do inglês United Kingdon), que engloba Grã-Bretanha e Irlanda do Norte, fica em uma ilha na costa noroeste da Europa continental. UK é formado basicamente da união de quatro nações: Inglaterra, Escócia, País de Gales e Irlanda do Norte.

O sistema é parlamentar com sede de Governo em Londres, sendo uma monarquia constitucional, tendo a Rainha Elizabeth II como a chefe de estado. O Príncipe Charles, seu filho, é o herdeiro natural do trono, tendo estado no centro do mais famoso romance de amor contemporâneo, envolvendo Lady Diana e Camila. O amor, no caso, sem dúvida, entre Charles e Camila.

Pode parecer incrível, mas UK tem ainda quatorze territórios ultramarinhos, remanescentes do grande Império Britânico, o qual no seu apogeu chegou a deter mais de um quarto da superfície terrestre.

Os resultados desse que foi um dos maiores império de todos os tempos ainda se faz sentir nos dias atuais pelas fortes influências contemporâneas no idioma, na cultura, nos hábitos e nos costumes. Embora essa influência seja global, ela é mais fortemente presente na suas ex-colônias como Estados Unidos, Austrália, Índia e Canadá, entre tantos outros.

UK, ainda que tenha sido a principal potência mundial durante o século XIX, ainda hoje é a sexta economia do mundo e detém o quinto maior PIB do planeta. A sua força remanescente tem muito a ver com sua sólida educação em todos os níveis.

Educação é obrigatória dos 5 aos 16 anos de idade, através de escolas financiadas pelo governo ou particulares, sendo que estas últimas se caracterizam pelo boarding school (os alunos residem e estudam na escola), enquanto as primeiras são basicamente day school (alunos estudam durante o dia e retornam diariamente para casa, como usual no Brasil).

O período anterior à idade escolar regular, dos 3 aos 5 anos, não faz parte da educação obrigatória e há uma variedade de figuras que cumprem este papel específico. Há os serviços denominados childcare, os quais são regulados pelos órgãos do Governo, podendo ser realizados por profissionais independentes como babás. Nanny é a categoria de babá que cuida da criança na casa desta, como auxiliar na presença dos pais ou enquanto estes estão fora de casa. Au pair é a categoria de babá que, diferentemente da Nanny, reside com a família da criança. Childminder, por sua vez, é a categoria de babá que atende as crianças em sua própria casa, podendo atender um número de crianças dependendo de seu treinamento e das condições da casa. As childminders podem atender crianças desde os três meses de idade até a adolescência, dependendo da formação profissional recebida. Há também o serviço de Day Nursery (berçário), que são instituições privadas que atendem crianças dos seis meses aos três anos. Recentemente a legislação sofreu uma alteração que assegura o direito das crianças a uma vaga no sistema público de ensino a partir dos 3 anos e nove meses.

A educação primária, que compreende dos 5 aos 11 anos, é dividido em duas etapas, conforme a faixa etária: i) dos 5 aos 7 anos, centrado no ensino da Língua Inglesa e Matemática; e ii) dos 7 aos 11 anos, com ênfase em Matemática, Língua Inglesa e Ciências.

A educação secundária compreende dos 11 aos 16 anos, também dividido em duas etapas: i) dos 11 aos 14 anos, depois dos quais o aluno faz a avaliação nacional em Matemática, Língua Inglesa e Ciências; e ii) dos 14 aos 16 anos, depois dos quais o aluno faz a avaliação nacional estudam para obter o certificado geral da escola secundária (GCSE). A diferença, em relação à educação primária, é que os estudantes cursam uma série de disciplinas obrigatórias, incluindo Design e Tecnologia, Tecnologia da Informação e Comunicação, Educação Religiosa, Orientação Vocacional e Educação Sexual. Há também disciplinas eletivas, escolhidas a partir dos interesses, preferências e habilidades individuais dos alunos, incluindo, entre outras, História, Geografia, Artes, Música, Administração, Assistência Social e Saúde, Lazer e Turismo.

Aos 16 anos, findo o período obrigatório de estudo, podem os estudantes partirem para o trabalho, se for o caso. Aqueles que optam por continuar seus estudos, partem para o nível chamado de educação adicional, que vai dos 16 aos 18 anos e compreende a formação profissional direcionada para o curso de graduação ou a carreira profissional que o aluno pretende seguir.

Após a educação adicional, os alunos prosseguem seus estudos através de cursos profissionalizantes ou no ensino superior. Quanto ao ensino superior, desde 2003 os estudantes experimentam novas regulamentações em todo Reino Unido. Quanto ao acesso, cabe às instituições de ensino superior a tarefa de decidir seus sistemas de ingresso, cabendo a elas definir os critérios seletivos de admissão em termos de rendimento acadêmico. O objetivo do governo é ampliar o acesso justo e isto contempla uma política de preços das universidades.

No que diz respeito à pesquisa, em 2004 o Governo publicou um plano de investimento de dez anos para a ciência e a inovação. Antes da presente crise mundial, que pode alterar esta tendência, o Governo fez um investimento no duênio 2007-2008 de 1 bilhão de Libras, valor bastante superior ao investido em 2004-2005. Este investimento, bem como sua provável continuidade, assegurará a qualidade e sustentabilidade dos programas de pesquisa nas mais diversas áreas.

Bem, na semana passada, o Brasil teve o prazer de receber o Príncipe Charles e a Duquesa Camila, os quais tinham praticamente uma agenda associada ao tema ecologia. Foram recebidos na Embaixada Britânica em Brasília, onde, a convite do British Council tivemos a oportunidade de compartilhar alguns momentos. Um dos destaques interessantes é que boa parte da bebida servida na recepção, de vinhos a espumantes, era da Vinícola Casa Valduga, o que nos fez sentir saudades e orgulho da produção gaúcha com qualidade internacional.

segunda-feira, 16 de março de 2009




PALESTRAS "A CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO CIENTÍFICO-TECNOLÓGICO" E OS 24 ANOS DO MCT


O começo da década de 1980 presenciou intenso movimento em favor da criação de um Ministério específico para a área de Ciência e Tecnologia. O candidato a presidente Tancredo Neves, em meados daquela década, comprometeu-se com a idéia. O presidente José Sarney, uma vez empossado, honrado o compromisso de Tancredo, materializou o compromisso estabelecido com toda a comunidade científica.

Renato Archer, um dos líderes pelo movimento da criação, foi então, com muita justiça, nomeado o primeiro ministro da pasta. Duas unidades passaram de imediato a ser vinculadas ao ministério, a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) e o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

Em 1990, o presidente Fernando Collor extinguiu o MCT e implantou a Secretaria da Ciência e Tecnologia, ligada à Presidência da República, sendo que dois anos depois, o presidente Itamar Franco editou outra medida provisória que voltou a criar o ministério, que permanece como pasta da área até hoje.

Assim sendo, após tantas idas e vindas, o agora consolidado em definitivo Ministério de Ciência e Tecnologia completa 24 anos neste mês de março e para comemorar o aniversário do MCT fui convidado a apresentar duas Palestras sobre o tema A Construção do Conhecimento Científico-Tecnológico.

O tema é tratado em caráter introdutório, via uma abordagem histórica, em nível acessível a todos, podendo ser de especial interesse aos que trabalham na área de Ciência e Tecnologia, em todos os seus abrangentes aspectos. Desde as primeiras formas de organização social do homem é possível identificar a sua constante tentativa de compreender o mundo que o cerca e a si mesmo. Denominamos genericamente de ciência, ou de seus primórdios, àqueles conhecimentos resultantes das inúmeras tentativas de entender e explicar a natureza de forma analítica e sistemática. Muito embora, no sentido estrito e rigoroso, ciência, que faz uso do método científico, só possa ser assim denominada a partir dos conceitos e atitudes dos cientistas do séc. XVII, período simbolicamente demarcado por Galileu Galilei.

Na primeira palestra (16 de março), as origens da ciência são apresentadas e as principais contribuições debatidas acerca do período que se inicia nas sociedades primitivas, passando pela Grécia Antiga e a Idade Média, até a Renascença, culminando com a consolidação das bases do Método Científico em Galileu.

Na segunda palestra (18 de março), o amadurecimento do método científico é abordado através da figura de Isaac Newton, que curiosamente nasce praticamente no mesmo ano que morre Galileu. Em seguida, serão analisadas as relações entre conhecimento e produção nos séculos seguintes, até o papel específico e determinante da ciência, tecnologia e inovação na sociedade contemporânea, incluindo as contribuições dos pensamentos dos grandes filósofos da ciência, entre eles Popper, Khun e Feyerabend.

domingo, 15 de março de 2009



AULA MAGNA NA UFG

Sempre tive muita simpatia pela Universidade Federal de Goiás. Não faltam motivos. Para citar um adicional, ela é irmã quase gêmea da Universidade Federal de Santa Maria, minha instituição.
Ambas nasceram quase juntas, sendo que a UFG foi criada no dia 14 de dezembro de 1960 com a reunião de cinco escolas superiores que existiam em Goiânia: a Faculdade de Direito, a Faculdade de Farmácia e Odontologia, a Escola de Engenharia, o Conservatório de Música e a Faculdade de Medicina. A partir de então, Goiás libertou-se da dependência em formar profissionais em escolas públicas em outras regiões. Foi um marco e continua sendo na história do Estado de Goiás.
Atualmente, seguindo os passos dos seminários iniciais que lhe deram origem, com a presença de Darcy Ribeiro e outros, pratica um ensino dinâmico e seus grupos de pesquisa estão cada vez mais e melhor consolidados.
Tive a oportunidade esta semana de ministrar a Aula Magna, por ocasião do início das atividades didáticas deste semestre, bem como de conversar, em outro período, com os pesquisadores da instituição.
Na Aula Magna tive o prazer de conhecer o Dr. Heitor Rosa, Diretor da Faculdade de Medicina da UFG, uma das cinco melhor avaliadas escolas de Medicina no último ENADE em todo país. Além disso, Dr. Heitor é profundo conhecedor de história da Medicina, com quem muito pudemos conversar sobre vários temas, inclusive sobre a final da Idade Média e a Renascença (tema também da Aula Magna).
Saber que a UFG está mais do que dobrando sua capacidade de atendimento na graduação, tanto na modalidade presencial como a distância e que sua pós-graduação atende a ritmo mais acelerado ainda é realmente uma grande alegria.
Nada disso seria viável sem as ousadias e competências, na mesma medida, da excepcional equipe comandada com muito brilho pelo Reitor Edward Madureira Brasil.
Um prazer saber que o Centro-Oeste e o país dispõem de instituições como a Federal de Goiás, capazes mesmo de, conjunta e solidariamente, enfrentar quaisquer desafios, sem medo dos problemas que vem juntos quando desbravamos novos caminhos.

segunda-feira, 9 de março de 2009





























AULA MAGNA NA UFS E APRENDIZAGEM IDEM

Ronaldo Mota


A Universidade Federal de Sergipe (UFS) teve seu início, enquanto Universidade, durante a década de 1960, resultado de iniciativas anteriores que datam da década de 1920.

Na verdade, hoje a instituição poderia denominar-se Universidade de Sergipe, dispensando o sobrenome do meio, dado sua afinidade e compromisso com o Estado. Não há tema de desenvolvimento estadual que não seja assunto de sua alçada e não há, igualmente, solução que não conte com sua participação solidária.

Mais recentemente, especialmente através dos Programas Universidade Aberta do Brasil (UAB) e Reestruturação Acadêmica e Expansão das Universidades Federais (REUNI), tem sido possível à UFS mais do que dobrar suas vagas e propiciar cursos em áreas estratégicas, inexistentes até então.

O Reitor, Prof. Josué Modesto, é um dos mais renomados economistas do país, profundo conhecedor de história econômica, matéria imprescindível para entender o contexto da crise atual. O Vice-Reitor, Prof. Ângelo Antoniolli (comigo na foto ajudando carregar o peixe), um cientista na área de farmacologia com visão empreendedora singular, em conjunto com equipe administrativa competente e harmônica, compõem a receita para uma universidade de sucesso, como tem sido observado na prática por todos naquela unidade da federação.

Tive o prazer de ministrar a Aula Magna da UFS por ocasião dos inícios das atividades acadêmicas deste ano, especialmente aos estudantes recém-ingressos dos turnos diurno e noturno. Em ambos os períodos, deparei-me com calouros muito interessados no tema do método científico e a evolução histórica ao longo dos caminhos da humanidade. Caminhos que passam pelo Australopithecus, Homo habilis, Homo erectus, Homo neanderthalensis e Homo sapiens sapiens, bem como nosso berço maior da civilização ocidental: a Grécia Antiga (ver figuras acima).

Não sei se consegui ensinar tudo o que pretendia, mas aprendi muito no final de semana posterior. Aprendi muito, particularmente no contato com a natureza. Existe uma região, próxima com a divisa com a Bahia (Mangue Seco, mais exatamente), próximo à localidade de Estância, onde braços do mar adentram o território sergipano, formando um eco-sistema de manguezal admirável.

Aprendi (comecei a aprender) o papel do mergulho na observação daquilo que de fora não é visto na riqueza do fundo daqueles cursos d’água. Pescamos na medida de nossa capacidade de comer, preservando o equilíbrio natural. Mesmo assim, os peixes são enormes.

Com o apoio do mergulhador Misso (pescador nativo) pudemos escolher a dedo (que aperta o arpão) um peixe (garoupa) fantástico de 45 Kg (ver fotos). Fantástico ver charéus de quase um metro de comprimento cercando cardumes de curimãs (tainhas para os do sul). Um ambiente inigualável em beleza.

Aprende-se muito, especialmente a diversidade do Brasil e sua riqueza humana, podendo conviver com pessoas da mais alta qualidade e espírito humano solidário e adoradores da confraternização. Vivendo e aprendendo, ensinando quando possível.

domingo, 1 de março de 2009






AS MÚLTIPLAS COMPETÊNCIAS DO EDUCANDO CONTEMPORÂNEO




Ronaldo Mota

Jose Ortega y Gasset, pensador espanhol, fez uma surpreendente comparação ao destacar a semelhança entre as dificuldades em modificar uma universidade e mover de endereço um cemitério. A analogia, segundo ele, é que os que lá residem ajudam pouco nas mudanças.

De fato, no que concerne às aulas tradicionais, pouco ou nada tem se alterado ao longo de décadas. O mundo extra-educação tem se alterado com rapidez e profundidade absurdas, enquanto as metodologias educacionais adotadas têm se mantido essencialmente as mesmas.

O que esperar de um profissional, egresso de um curso superior, é tudo menos o mesmo, se compararmos décadas atrás com os tempos atuais. Um grande complicador é que o que se espera atualmente, em termos de competências, inclui os requisitos de ontem, demandando novos atributos sem abrir mão dos anteriores. Um resumo de todas as mudanças está na diferenciação entre competência técnica e competências múltiplas.

Houve um período que era quase suficiente o domínio de um conjunto razoavelmente delimitado de conhecimentos, associado a um elenco restrito de técnicas e procedimentos básicos contidos nos currículos padrão definidos para cada profissão. Cumpridos os créditos previstos, estava o formando preparado para aprender mais no exercício profissional, completando sua formação. Era dessa maneira pela simples razão que funcionava. O dilema atual é que simplesmente não funciona mais.

A radicalidade das mudanças necessárias invade todos os aspectos e ambientes, incluindo o espaço físico. No entanto, a sala de aula é sempre a mesma e reproduz e reforça o padrão do bom comportamento desejável do estudante calado. Sentado em fileiras, invariavelmente bem separadas e organizadas tal que, dispostos um atrás do outro, estejam maximamente distanciados. Preparados para copiar a fala do professor e estudar depois, tal como previsto e apregoado. O espaço organiza a não interação, o não discurso entre os pares, em total não sintonia com o mundo do trabalho em que os estudantes, no futuro, estarão imersos em suas vidas profissionais.

Em complemento à competência técnica, existem múltiplas habilidades a serem desenvolvidas e estimuladas. Entre elas, destaco a competência emocional, a capacidade de trabalhar em equipe e a vivência em laboratórios no enfrentamento de situações problemas, elementos em geral inexistentes, ou pouco explorados, nos currículos típicos.

O aspecto comportamental é absolutamente crucial quando um profissional depara-se com um problema inédito, um tema inovador ou tecnologias recentes. Se ao longo do período escolar, o qual é rigorosamente infindo, essas emoções, que preparam para enfrentar desafios, não foram trabalhadas, este suposto cidadão, ainda que dominando as técnicas convencionais, terá enorme chance de fracasso.

Outra capacidade associadas às novas competências é o trabalho em equipe. No passado recente os exercícios profissionais eram atos majoritariamente isolados, à semelhança dos processos avaliativos típicos, onde a relação básica era entre um problema discreto e um indivíduo. No futuro próximo, a imensa maioria dos desafios, em qualquer profissão, envolve um grupo de atores e um somatório de questões complexas e inter-relacionadas.

Não é mais aceitável que a preparação para ambientes tão distintos, o passado e o futuro, seja a mesma. No entanto, em que pesem boas iniciativas recentes, em boa parte das práticas educacionais, os processos avaliativos ainda baseiam-se em relações simples e singulares entre um educando isolado e um problema discreto e dissociado.

A competência de liderança dos estudantes, a capacidade de tomar iniciativa, a habilidade gerencial, a valorização do potencial criativo e da sensibilidade quanto ao ambiente em que estão imersos são atributos que raramente estão presentes nas avaliações, tanto de ingresso como de saída, dos estudantes de graduação.

O papel síntese das experiências em laboratórios, o incentivo aos trabalhos em grupo, a valorização do hábito de estudar antes das aulas, o estímulo à criatividade e o despertar da sensibilidade que reconhece no outro, e em si mesmo, as qualidades, peculiaridades e limitações são práticas pouco, ou nada, exercitadas nas metodologias clássicas adotadas.

Para tratar do avesso do avesso, insisto que nada disso isenta a necessidade de profundo conhecimento dos aspectos técnicos específicos (capacidade técnica). Os estímulos às novas competências não menospreza o conhecimento tradicional e mesmo os procedimentos padrão de avaliação. Não se trata de substituir, mas sim de agregar. Ensinar não ficou mais simples, transformou-se em mais complexo, como a vida e o mundo do trabalho que nos cerca.