A compreensão adequada do mundo atual passa pela nossa capacidade em decifrar tendências. Tais prospecções são, em geral, divididas em dois blocos principais, as megatendências e as microtendências. Neste mundo complexo, emergem novas categorias, entre elas as denominadas nanotendências.
Definimos nanotendências como sendo aqueles fenômenos ou conjunto de fenômenos que apresentam propriedades e comportamentos exclusivamente em função da pequeníssima escala, ainda que seus efeitos sejam, em condições e tempos apropriados, observáveis nas dimensões maiores.
Uma destacável nanotendência educacional é a educação flexível, fruto da hibridização das modalidades presencial e a distância. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB, Lei 9.394, de 20 de dezembro de 1996) inovou ao contemplar a oportunidade do ensino a distância em todos os níveis de ensino. No entanto, em conjunto com os decretos e portarias que se sucederam, os resultados finais cristalizaram um cenário de duas modalidades distintas e, muitas vezes, antagônicas: presencial e a distância.
Educação flexível viabilizará num cenário próximo que cada estudante ao início do calendário letivo possa escolher algumas disciplinas com características mais presenciais e outras a distância. Aquelas hoje chamadas presenciais farão uso de muitas ferramentas que atualmente associamos com a distância. Por sua vez, as disciplinas ditas a distância incorporarão cada vez mais atributos da presencialidade, tais como trabalhos em equipe com seus colegas, laboratórios etc.
Outra nanotendência diz respeito às concepções andragógicas e a necessidade de repensar nossas metodologias educacionais à luz do fato que o perfil etário dos nossos estudantes da educação superior brasileira se alterou significativamente. Fato é que, embora mais de 40% das matrículas no ensino superior seja de estudantes com mais de 25 anos, a pedagogia (de paidós, criança em grego) permanece sendo a abordagem absolutamente dominante. A adoção de metodologias e abordagens andragógicas (derivado de andros, de homem, genericamente, adulto) ocupa um espaço desproporcionalmente nano para uma escala absolutamente macro de estudantes adultos.
Dois elementos educacionais, tratados como nanos, de fato são macros. Por descuido têm sido entendidos como meramente complementares quando são, de fato, essenciais no processo ensino-aprendizagem. São eles: 1) o laboratório como espaço de prática, onde os conceitos são consolidados, os pensamentos abstratos assumem a solidez da experimentação e se efetiva a oportunidade de erros e acertos, simulando o exercício mais próximo possível da atividade profissional, reforçando as bases do pensar segundo o método científico; 2) o trabalho em equipe, onde aspectos primordiais do aprendizado são explorados, via construção coletiva, onde a percepção do(s) outro(s) é experimentada e desenvolvida, despertando e incrementando o (re)conhecimento das limitações e potencialidades, próprias e dos demais, além de ser espaço preferencial para cultivar o respeito à tolerância e à diversidade.
Estimular a criatividade enquanto elemento central do processo educacional ocorre numa escala tão diminuta, quase nano. No entanto, no campo educacional a criatividade está relacionada centralmente com a capacidade de absorver, transformar e produzir conhecimento, cabendo à escola garantir as necessidades fundamentais e propiciar o ambiente adequado para que o estudante seja estimulado a criar, a partir do que já foi aprendido, lidando com o novo e despertando valores positivos associados à invenção em geral e à descoberta de conhecimentos originais.
Vivemos um cenário de crise financeira mundial que favorece que fenômenos de escala sejam preponderantes na sobrevivência, sucesso ou desaparecimento de empresas em todos os ramos de atividades. No setor privado, há uma tendência macro à incorporação das instituições menores pelas maiores, gerando a formação de empresas holding, as quais muitas vezes se estabelecem como capital aberto em bolsas de valores. Neste cenário macro, desaparecerão as de mezoescala e creio que sobreviverão, além dos grandes grupos, somente pequenas instituições, desde que consigam explorar suas especificidades e peculiaridades, bem como agilidade e ousadia de incorporar novos modelos acadêmicos.
Está em curso uma febre jurídica macro que assola a educação superior no país. Baseados na fé da capacidade normativa abundam decretos, portarias, resoluções e órgãos. Em que pese boa fé das iniciativas, nada mais são do que reflexos perversos da falta de perspectivas educacionais. Os instrumentos jurídicos criados, que têm seus estímulos principais no controle do setor privado, geram máquinas de desestímulo às necessárias inovações e ousadias acadêmicas. As nanotendências acadêmicas experimentadas pelas pequenas instituições ousadas poderão no futuro próximo representar um desafio capaz de amedrontar o macro dragão dos empecilhos jurídicos normativos que ocupam os espaços educacionais.
A seguir, apresentaremos exemplos, de forma mais detalhada, de dez nanotendências educacionais.
(a figura com nanotubos à direita em cima é de um artigo meu com co-autores denominado: Ab Initio Study of Pristine and Si-doped Capped Carbon Nanotubes interacting with Nimesulide Molecules, publicado em Chemical Physics Letters, vol. 43, em 11 de maio de 2007, páginas 348-353. Nimesulida é parte daquele composto presente no spray comum para garganta).
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