EDUCAÇÃO ANDRAGÓGICA, NO TEMPO E NO ESPAÇO TOTAL
Ronaldo Mota
É fato que o tema Educação na sociedade brasileira assume, nos tempos atuais, a principalidade merecida. A novidade é sua transcendência, no tempo e no espaço, exigindo repensar profundamente as formas com que ensinamos e as maneiras pelas quais aprendemos.
Atualmente mais do que 40% de nossos estudantes universitários têm mais de 25 anos, sendo que a maioria deles tem emprego, são casados, com filhos e oriundos de famílias de classe média, predominantemente baixa. Perfil bem distinto do caso clássico de antigamente, ou seja, jovem, solteiro, sem necessidade de trabalhar enquanto estuda, sendo, em geral, oriundo das classes médias e altas, recém-egresso do ensino médio e estudando durante o dia. Mesmo assim, boa parcela das práticas e métodos de ensino-aprendizagem ainda supõem que dirigimo-nos quase exclusivamente ao segundo caso.
O perfil adulto desse novo público, com suas características específicas, demanda naturalmente novas metodologias, abordagens didáticas diferenciadas que levem em conta processos ensino-aprendizagem próprios da andragogia que reconhece o andros (homem, em geral, no caso significando adulto), em contraposição aos métodos pedagógicos e a paidós (criança em grego).
Enquanto o denominado bom aluno de antigamente estuda, especialmente, depois que o professor ensina, na andragogia esse modelo dá espaço a uma nova concepção, espacial e temporal, de estudante fortemente induzido a preparar-se previamente para uma nova dinâmica de sala de aula. Na abordagem inovadora, dos estudantes é exigido um preparo anterior à ocorrência dos momentos presenciais. Assim, faz-se necessário que material didático seja disponibilizado de forma e momentos adequados.
Nesse novo contexto, a aula expositiva muda de característica, devendo o professor saber que fala para iniciados, priorizando reforços de conceitos já preliminarmente assimilados, promovendo atividades laboratoriais/experimentais, desafiando os estudantes para um debate mais profundo e participativo. Enfim, uma nova dinâmica de aula que exige muito mais do docente, alterando seu papel, enaltecendo muito mais a figura do mestre. Ensinar não ficou mais simples, ficou mais complexo, nem por isso menos desafiador ou estimulante.
Fazem parte do passado as formaturas que encerravam ciclos escolares bem definidos e os alunos transformando-se, da noite para o dia, em profissionais preparados para ingressar no mundo do trabalho. A realidade atual evidencia que o profissional terá que realizar ciclos infindos de permanentes formaturas, comandados pelas necessidades de seus campos específicos de atuação, bem como para satisfazer suas complexas ambições e desejos pessoais com novos e desafiadores não-limites.
Por exemplo, se houve um tempo que formar um engenheiro significava basicamente transmitir um conhecimento razoavelmente consolidado, baseado em um conjunto de técnicas e procedimentos, acrescido de um saber básico conceitual fundamental, a realidade atual não dispensa as exigências anteriores, mas acresce preparar para o indizível, o que não pode ser previsto. A andragogia tem obrigatoriamente tal percepção, sem o que não cumpre os postulados básicos que lhe deram origem.
O espaço de aprendizagem tipicamente delimitado pela escola espalha-se pelo não-espaço que contempla o ambiente doméstico, incluindo o do trabalho e o caminho de um para outro. De fato, estamos diante de um novo paradigma espaço-temporal, sem limites de qualquer natureza, nem no tempo como no espaço. Assim, sem prejuízo das especificidades do ambiente escolar, o ensino rompe barreiras e não aceita fronteiras, incorporando todos os possíveis e imagináveis nichos e a todos podemos proclamar espaços e tempos de aprendizagem.
O universo da andragogia, da educação permanente ao longo da vida, a inundação da aprendizagem ocupando a todos os possíveis espaços e a concepção de que todos seremos estudantes para sempre estão em perfeita coerência com a predição de Albert Einstein que um dia ousou definir que Educação é aquilo que fica quando esquecemos o que nos foi ensinado.
Ronaldo Mota é professor titular em física da Universidade Federal de Santa Maria, assessor especial do Ministro no Ministério de Ciência e Tecnologia, tendo sido secretário de Educação a Distância e secretário de Educação Superior no Ministério da Educação.
Caro Ronaldo
ResponderExcluirMuito bacana sua iniciativa de criar um blog e compartilhar conosco a sua vasta experiência educacional. Seus artigos tocam em pontos de extrema relevância e colocam em cheque a chamada "caixa preta" da sala de aula.
Abraços
Maurício