quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009










EDUCAÇÃO SUPERIOR BRASILEIRA E CRISE MUNDIAL


(Versão "ligth". Para detalhes, veja próximo texto mais completo)

Ronaldo Mota

“Crise é a benção que pode ocorrer com as pessoas e países, porque traz progressos. A criatividade nasce da angústia, como o dia nasce da noite. É na crise que nascem invenções, descobrimentos e as grandes estratégias. Quem supera a crise, supera a si mesmo sem ficar superado. Sem crise não há desafios, sem desafios, a vida é uma rotina. Sem crise não há méritos. É na crise que aflora o melhor de cada um. Falar de crise é promovê-la. Acabemos com a única crise realmente ameaçadora, que é a tragédia de não querer lutar para superá-la". (Albert Einstein)

A educação superior e suas instituições de ensino se caracterizam, sobretudo, por serem complexas e diversificadas. Da mesma forma, a crise atual está longe de ser de simples compreensão.

A crise financeira em curso pode engendrar ou não uma crise econômica global, com maior ou menor relevância, durando um tempo mais breve ou mais duradouro.

Todas as instituições de ensino superior podem ser imediatamente afetadas. Tanto as públicas por novos arranjos nos orçamentos, que demandam ações das áreas de planejamento público, bem como as do setor privado, à medida que restrições de crédito e alterações de perfis das camadas sociais de sua clientela são elementos que impactam as suas perspectivas para os anos vindouros.

De acordo com o Censo INEP/2007, coleta envolvendo 2.281 instituições, é registrado que, quanto à categoria administrativa, do total de instituições pesquisadas, 2.032 (correspondendo a 89%) são do setor privado e 249 (11%) são de natureza pública. No setor privado, mais de três quartos são particulares e as demais (em torno de ¼) são comunitárias, confessionais ou filantrópicas.

São 23.488 cursos de graduação presencial, 3.702 de educação tecnológica e 408 na modalidade educação a distância. O número total de matrículas resultou 5.250.147, sendo 4.880.381 na graduação presencial, 369.766 em graduação a distância e 347.857 em graduação tecnológica.

O crescimento destacável na modalidade a distância reflete as políticas aplicadas com sucesso nos anos recentes. A modalidade a distância que representava 1% das matrículas em 2004, agora já são expressivos 7% e crescendo a passos acelerados.

Dos 4.880.381 estudantes presenciais, 1.240.968 estudam em instituições públicas (615.542 em federais, 482.814 em estaduais e 142.612 em municipais) e 3.639.413 em instituições privadas, correspondendo respectivamente a 25,4% e 74,6%. Quanto à organização acadêmica, do total de estudantes, 2.644.187 (54%) estudam em universidades, 680.938 (14%) em centros universitários e 1.555.256 (32%) em faculdades.

Em termos de matrículas globais na graduação, envolvendo as duas modalidades, a taxa de escolaridade bruta (% de matrículas comparadas com a população jovem entre 18 a 24 anos) ultrapassou 20%, sendo a taxa líquida (considerando somente matrículas de jovens) ficou em pouco mais de 12%. Números muito distantes do previsto (30%) no Plano Nacional de Educação para o final desta década.

Uma interessante observação desses números é que mais de 40% de nossos estudantes universitários têm 25 anos ou mais. Em geral, tem emprego, são casados, tem filhos e oriundos de famílias de classe média, predominantemente baixa.

Quanto ao gênero de nossos estudantes, 56% são mulheres e 44% do sexo masculino. Tal dominância, progressivamente, esta se reproduzindo também nos demais níveis de ensino, mestrado e doutorado.

Dados do questionário sócio-econômico preenchido pelos estudantes realizando os ENADEs 2005-2006 mostram que uma importante modificação acerca dos meios de comunicação preferidos pelos concluintes. Enquanto a internet em 2002 era a opção de menos de 10%, em 2006 assim responderam 42%. Neste ritmo, não resta dúvida que encerraremos a década tendo a internet como principal meio de informação.

Esses dados todos conduzem à necessidade cada vez maior de abordagens andragógicas, entendidas como estímulo às novas metodologias e a busca por abordagens inovadoras.

Há que se notar que o principal público que nos últimos anos estava, de forma diferenciada, começando a procurar com mais intensidade o ensino superior era aquele proveniente das classes C e D. Isso é verdadeiro tanto no setor público em expansão, notadamente as universidades federais, como no setor privado.

Entender como a crise implicará em novos contornos não é tarefa simples, ainda que necessária. Dois elementos são cruciais: 1.possível aumento do desemprego e maior competitividade pelos postos de trabalho, bem como alterações do mundo do trabalho e 2. necessidade de agregar mais tecnologias em todos os processos, inclusive educacionais.

Acerca do primeiro, não há elementos disponíveis para uma previsão segura acerca da intensidade de desemprego adicional no Brasil, mas é certo que o ritmo de exigência de qualificação de mão de obra será intensificado, fazendo com que os que já estão trabalhando enxerguem, cada vez mais, na Educação o principal instrumento de manutenção ou obtenção de espaços no mundo do trabalho.

Sobre o segundo elemento crucial, incorporação de tecnologias inovadoras, a crise atual só fará acelerar ainda mais a competitividade em todos os setores, especialmente na formação de recursos humanos, por agregar novos conteúdos tecnológicos.

Enfim, o estudante que chega à universidade, cada vez mais, não é somente aquele jovem, quase adolescente, que recentemente completou o ensino médio e quase precocemente definiu por esta ou aquela futura profissão.

O perfil predominantemente adulto desse novo público, com suas características específicas, demanda naturalmente novas metodologias, abordagens didáticas diferenciadas que levem em conta processos ensino-aprendizagem próprios da andragogia que reconhece o andros (homem, em geral, no caso significando adulto, em grego), em contraposição aos métodos pedagógicos e a paidós (criança, em grego).

Na andragogia substitui-se o perfil do aluno tradicional pelo novo estudante. Enquanto o denominado bom aluno de antigamente estuda, especialmente, depois que o professor ensina em sala de aula, na andragogia esse modelo dá espaço a uma nova concepção, espacial e temporal, de estudante fortemente induzido a preparar-se para uma nova dinâmica de sala de aula.

Na abordagem inovadora, dos estudantes é exigido um preparo anterior à ocorrência dos momentos presenciais em sala de aula. Para tanto, além de outras inovações decorrentes, faz-se necessário que material didático seja disponibilizado de forma apropriada e nos momentos adequados.

Nesse novo contexto, a aula expositiva muda de característica, devendo o professor saber que fala para iniciados, priorizando reforço de conceitos já preliminarmente assimilados, promovendo atividades laboratoriais/experimentais, desafiando os estudantes para um debate mais profundo e participativo.

De fato, caminhamos, de forma acelerada, em direção a uma educação flexível, onde as boas características de ambas as modalidades, presencial e a distância, poderão ser contempladas simultaneamente e de forma, muitas vezes, complementar.

Nas décadas anteriores a formação em graduação nas diversas carreiras do ensino superior consistia basicamente em dotar os futuros formandos de um conjunto razoavelmente bem definido de conhecimentos específicos próprios de cada profissão.

Além disso, na visão anterior, priorizava-se o desempenho individual, nas abordagens contemporâneas o trabalho em grupo ocupa espaço preferencial, estimulando trabalhar em equipe e o desenvolvimento coletivo.

O espaço de aprendizagem tipicamente delimitado pela escola espalha-se pelo não-espaço que contempla o ambiente doméstico, incluindo o do trabalho e o caminho de um para outro. De fato, estamos diante de um novo paradigma espaço-temporal, sem limites de qualquer natureza, nem no tempo como no espaço. Assim, sem prejuízo das especificidades do ambiente escolar, o ensino rompe barreiras e não aceita fronteiras, incorporando todos os possíveis e imagináveis nichos e a todos podemos proclamar espaços e tempos de aprendizagem.

O universo da andragogia, da educação permanente ao longo da vida, a inundação da aprendizagem ocupando a todos os possíveis espaços e a concepção de que todos seremos estudantes para sempre estão em perfeita coerência com a predição de Albert Einstein que um dia ousou definir que Educação é aquilo que fica quando esquecemos o que nos foi ensinado.

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